quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

amor [num mar de dor]

quão obtuso há de ser o amor para que se o considere não apenas real, mas plausível em toda a sua insaciedade e inconstância; quão necessário ou possível seria entendê-lo em todo seu quê de mar, aberto, incomensurável, perdido, tão presente quanto in tocável. Será a displicência de transcorrer sem explicar a habilidade que forja ou tempera a acidez de tal amor; ou estaremos uma vez mais usando palavras como emplastro milagroso para fechar feridas que nos fazem sentir, indubitavelmente, a força da vida?.. Ainda assim pode se ter em mente a busca pelo próprio arregaço destas chagas, talvez com o intuito mesmo de majorar os efeitos parcos de supostas curas; ou, ainda, para dar poderes que testem a capacidade máxima do ser humano de destruir, como há muito se sabe e desde que se permita, aquilo que ama.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Entre outros comprimidos em meio a incompreensíveis coisas

..serei sempre e inevitavelmente um resquício do que jamais saberão chamar de mim mesma com os pedaços que deixo caídos ao lado de meus passos, batidos e áridos. .


..pra não provar de si mesmo e ter um gosto viciante de crueldade na boca. Pro inferno os conselhos que dei e aceitei, a vida é como a carne aberta injustamente, minha ou do animal que consumo desesperadamente, seja ele alimento, amante ou a última tábua de salvação, sem conexão alguma comigo ou, sequer, com o que aparento ser. Será mais uma busca alucinante pelo que se pretende perder.


Cansei, ñ consigo dizer nenhuma dessas coisas, minha voz parece atordoar o que tenho e me vem de mais profundo, é como se tivesse se especializado tanto na superficialidade e atitude correta que, quando escrita, me cansa ao ponto de parecer ter gritado, com incomensurável força.


..que não se equiparam, de forma alguma, à angústia da palavra, seja ela já dita ou apenas pensada, embora descubra que a escrita é o que a torna, em toda sua severa posteridade, ainda mais pesada.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Vinicius de Moraes

Soneto da Separação


De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.