domingo, 1 de setembro de 2013

O valor da oração - A oração foi inventada para aqueles que por si próprios nunca têm pensamentos, que ignoramo que seja elevação da alma ou a experimentam sem dela se darem conta: que farão eles em lugares santos e em todas as graves situações da vida, que requerem sossego e uma espécie de dignidade? Para que eles ao menos não perturbem, a sabedoria dos fundadores das religiões, das pequenas como das grandes, prescreveu-lhes a fórmula da oração, como um demorado trabalho mecânico dos lábios, associado a um esforço da memória e a uma mesma postura fixa para as mãos, os pés e os olhos! Pouco importa se eles, como os tibetanos, ruminam inumeráveis vezes "om mane padme hum", ou, como em Benares, contam nos dedos os muitos nomes do deus Ram-Ram-Ram (e assim por diante, graciosamente ou não); ou se exaltam Vishnu com seus mil nomes, ou Alá com seus noventa e nove; ou se utilizam moinhos de oração ou rosários - o principal é que com esse trabalho permaneçam  algum tempo imóveis e ofereçam uma visão tolerável: seu gênero de oração foi inventado para o benefício dos devotos que conhecem por si próprios elevações e pensamentos. E mesmo esses têm suas horas de cansaço, em que lhes faz bem uma série de palavras e sons veneráveis e piedosos gestos mecânicos. Mas, supondo que esses homens raros - em toda religião o homem religioso é a exceção - sempre saibam o que fazer: aqueles pobres de espírito nunca sabem, e proibir-lhes o matraquear das orações significa tirar-lhes a religião: como revela cada vez mais o protestantismo. Deles a religião quer apenas que fiquem sossegados, com os olhos, as mãos, as pernas e outros órgãos: assim tornam-se mais belos por algum tempo e - mais semelhantes a seres humanos!
[Aforismo 128, da Gaia Ciência, Nietzsche]
Deus é o papai noel dos adultos!

¬¬.. humm de: A époché ou a redução fenomenológica..

A atitude natural do homem é feita de persuasões variadas, úteis e necessárias à vida cotidiana. E a primeira dessas persuasões é a de que vive em um mundo de coisas existentes. Essas persuasões, porém, não possuem evidência constritiva e, consequentemente, devem ser postas entre parênteses. Não é que o filósofo duvide delas: ele muito mais as põe fora de uso, não as utilizando como fundamento de sua filosofia, já que, se a filosofia quer ser ciência rigorosa, deve pôr como seu fundamento somente o que é indubitavelmente evidente.

[REALE, Giovanni, ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Vol. 3. 7ª edição, 2005. p563]