segunda-feira, 22 de junho de 2020

Da série 'o livro tá chato, talvez eu deva largar' e 'me deu na cara com a mão aberta'

"Aquele, acolá, que se dizia belo, não compreendia a amizade. Meu pai, que era cruel, tinha amigos e sabia amá-los. Nunca se mostrava sensível à decepção, que é avareza frustrada. A decepção não passa de baixeza. Se tu amaste um certo não sei quê no homem, que importa haver no mesmo homem outra coisa que te desagrada? Mas tu, não, senhor: transformas logo a seguir em escravo quem amas ou quem te ama. Se ele não assume os encargos dessa escravidão, tu o condenas.
O outro que fez? Tinha um amigo que lhe fazia presente do seu amor. Vai ele e transforma esse presente em dever. E a dádiva do amor tornou-se dever de beber a cicuta, tornou-se escravatura. O amigo não gostava da cicuta. O outro deu-se por desiludido, o que é ignóbil. Efetivamente, só pode haver decepção relativamente a um escravo que servia mal."
(p 133, Cidadela, Saint-Exupéry)