segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Tudo tem sua dosagem, a despeito de ser tu quem tempere.

Tempero o dissabor com espera
Tentando lograr essa exasperada solidão.
O tempo se arrasta, imutável, frio, absoluto
Aumentando ainda mais minha gana de futuro,
Da tua cumplicidade não programada,
Desse sentimento que surgiu à distância e por distração
Até não poder mais ser negado ou escamoteado
Agora é bicho crescido, duma plenitude que me engana
Que me faz acreditar e supor que sempre,
Sempre mesmo, aquele sentimento instantâneo que representa a eternidade,
Haverá um amanhã.
Nunca fui tão fluida,
Nunca mesmo, daquele sentimento que não possui similaridade,
Tão aconchegada nos braços de uma incerteza que canta, que me adormece nos braços
Ao invés de me impelir pra frente, sempre em frente,
Calada, amortecida, imune..
Não.. agora a pele ferve e as feridas nem têm tempo de cicatrizar..
Há apenas presente, com futuro incauto,
Mas preenchido desse magma que deforma todo o caminho por onde passa..
Destruindo cuidados e construindo pontes
 e ilhas.


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A fé que salva. - A virtude dá felicidade e uma espécie de beatitude somente àqueles que têm fé em sua virtude - e não àquelas almas mais sutis, cuja virtude consiste em profunda desconfiança de si mesmos e de toda a virtude. Afinal, portanto, também aqui "a fé salva!" - não a virtude, note-se bem!

[NIETZSCHE, A Gaia ciência, p158, aforismo 214]


domingo, 1 de setembro de 2013

O valor da oração - A oração foi inventada para aqueles que por si próprios nunca têm pensamentos, que ignoramo que seja elevação da alma ou a experimentam sem dela se darem conta: que farão eles em lugares santos e em todas as graves situações da vida, que requerem sossego e uma espécie de dignidade? Para que eles ao menos não perturbem, a sabedoria dos fundadores das religiões, das pequenas como das grandes, prescreveu-lhes a fórmula da oração, como um demorado trabalho mecânico dos lábios, associado a um esforço da memória e a uma mesma postura fixa para as mãos, os pés e os olhos! Pouco importa se eles, como os tibetanos, ruminam inumeráveis vezes "om mane padme hum", ou, como em Benares, contam nos dedos os muitos nomes do deus Ram-Ram-Ram (e assim por diante, graciosamente ou não); ou se exaltam Vishnu com seus mil nomes, ou Alá com seus noventa e nove; ou se utilizam moinhos de oração ou rosários - o principal é que com esse trabalho permaneçam  algum tempo imóveis e ofereçam uma visão tolerável: seu gênero de oração foi inventado para o benefício dos devotos que conhecem por si próprios elevações e pensamentos. E mesmo esses têm suas horas de cansaço, em que lhes faz bem uma série de palavras e sons veneráveis e piedosos gestos mecânicos. Mas, supondo que esses homens raros - em toda religião o homem religioso é a exceção - sempre saibam o que fazer: aqueles pobres de espírito nunca sabem, e proibir-lhes o matraquear das orações significa tirar-lhes a religião: como revela cada vez mais o protestantismo. Deles a religião quer apenas que fiquem sossegados, com os olhos, as mãos, as pernas e outros órgãos: assim tornam-se mais belos por algum tempo e - mais semelhantes a seres humanos!
[Aforismo 128, da Gaia Ciência, Nietzsche]
Deus é o papai noel dos adultos!

¬¬.. humm de: A époché ou a redução fenomenológica..

A atitude natural do homem é feita de persuasões variadas, úteis e necessárias à vida cotidiana. E a primeira dessas persuasões é a de que vive em um mundo de coisas existentes. Essas persuasões, porém, não possuem evidência constritiva e, consequentemente, devem ser postas entre parênteses. Não é que o filósofo duvide delas: ele muito mais as põe fora de uso, não as utilizando como fundamento de sua filosofia, já que, se a filosofia quer ser ciência rigorosa, deve pôr como seu fundamento somente o que é indubitavelmente evidente.

[REALE, Giovanni, ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Vol. 3. 7ª edição, 2005. p563]

terça-feira, 7 de maio de 2013

A música que fica, fica, encanta e conquista a minha cabeça..

terça-feira, 12 de março de 2013

A mão que doa nem ao pé retorna


Torneando sonhos a doação engana
À expectativa disfarça e a maldade
Prevalece
Inaudíveis os sons dos sussurros almados
Desarmados em desacordo com a epidemia vigente
Esse contentar, não contente
No vazio que entorna, se compraz na indigna
Fidelidade
Do sonho desconcreto
Do desejo inacabado
A liberdade então profunda assusta
Nem tanto pelo que resmunga
Mas pelo tanto do que escarnece
Vislumbra rubra
A certeza do garantido
Mofado com ideologias infundadas
Adestrado tal quão cão enjeitado
Temeroso dela, dum mergulho profundo
No inabitável, no aturdido
Trapaceiro tortuoso
Que de tão simples dubitável:
A morte.  
danapestano
11/01/2013

Ocupência


O largo improdutivo e profundo da profusa sobrevivência
Escarnece dos ocupados
Ignora as incertezas
E vela a si próprio com inadulterado prazer
Sequela toda virtuosa busca com a sagaz elegância de manipulador,
Ventríloquo de verdades sem extremos
Sem comprovantes, sem necessidades
Calcado na vulnerabilidade do movimento
Livre de qualquer função, perigo ou hipocrisia
Deveras etéreo, simples e inconciso
É a voracidade da vida cismada
Sem paixão, sem resolutismos
Cheia de autismos e desnecessários
Bastada em si e por tudo
Morta, todo dia,
Em nome de si mesma.
danapestano
08/jan/2013

Inconstância


E a negra dor da inconstância
Invade, auspiciosa e paulatinamente,
Minha mente e cerne
Invade meus poros com sua inegável
Força e maleabilidade aquosa
Eu, ao desfazer-me em tentativas equilibristas,
Me resto apenas em suspiros
De sonhos, ódios e prazeres deveras escondidos
Tão profundos que parecem tênue miragem
Desgaste de futuro passado
Lamento de voo raso
Auspícios de ave que pensa cortar o ar
A vida e a suposta coerência
Ao seu bel prazer
A despeito da corrente
A despeito da sobrevida
Intrépida e precisa
Pra onde?
Não sei.
Nem digo.
Dana
22/novembro/2012

Pretérito Imperfeito




JAZ NO DEDO AFLITO A IDÉIA DA ESCRITA INERTE

DIANTE DO ARTÍCE GRITO
ENVERGONHADO DE SUA PERPETUOSIDADE
AMENDRONTADO DIANTE DUM FUTURO LEITOR IMPROVAVEL
ENROSCA-SE NA PRÓPRIA E AUTOINDUZIDA IMPRODUTIVIDADE
ESCASSEANDO AS ENERGIAS EM PALAVRAS DEVERAS VAZIAS
ESPARGIDAS PELO AR
SÔFREGO E NAUSEABUNDO EM MEIO A UM GRUPO QUALQUER
SABENDO DE ANTEMÃO O DESACORDO ENTRE
VIDA E GOSTO
FALA E GOZO
PRETÉRITO, PERFEITO E VERDADE.